Scott Taylor: Por que o testemunho de missionários ‘morrendo’ é apenas uma razão para se evitar gírias missionárias
‘Mantenha um linguajar digno e evite usar gírias’, diz o manual ‘Padrões Missionários para os Discípulos de Jesus Cristo’

Missionários cantam durante um devocional no Centro de Treinamento Missionário na Cidade do México na sexta-feira, 9 de dezembro de 2022.
Jeffrey D. Allred, Deseret News
Scott Taylor: Por que o testemunho de missionários ‘morrendo’ é apenas uma razão para se evitar gírias missionárias
‘Mantenha um linguajar digno e evite usar gírias’, diz o manual ‘Padrões Missionários para os Discípulos de Jesus Cristo’

Missionários cantam durante um devocional no Centro de Treinamento Missionário na Cidade do México na sexta-feira, 9 de dezembro de 2022.
Jeffrey D. Allred, Deseret News
“Vocês não adoram ouvir o testemunho de 'missionários morrendo?’”
Quando a pergunta foi feita à minha esposa e eu, enquanto presidíamos os missionários de tempo integral no Arizona há alguns anos, aquelas palavras nos deixaram surpresos. A pergunta veio de alguém que tinha experiência em ajudar a liderar missionários em outra época e em outra missão.
“Você não quer dizer testemunho dos missionários ‘vivos?’”, respondeu sister Taylor.
Rapidamente entendemos sobre o que ele estava falando e o uso da gíria missionária. Anteriormente, ele havia interagido com missionários que se preparavam para voltar para casa ao término de sua missão.
Com frequência, os missionários que estão terminando a missão são convidados a se reunirem em um tipo de devocional, com os líderes da missão na casa da missão ou em uma capela local, onde os membros podem ser convidados, e compartilharem o testemunho de seu serviço, experiências, conversão de outras pessoas e de si mesmos.
Esses momentos são uma reminiscência de quando os quatro filhos de Mosias se reuniram, após sua missão de 14 anos entre os lamanitas (Alma 26), e se encontraram com Alma, o filho (Alma 17).
O Livro de Mórmon descreve que “haviam se fortalecido no conhecimento da verdade; porque eram homens de grande entendimento e haviam examinado diligentemente as escrituras para conhecerem a palavra de Deus.
“Isto, porém, não é tudo; haviam se devotado a muita oração e jejum; por isso tinham o espírito de profecia e o espírito de revelação; e quando ensinavam, faziam-no com poder e autoridade de Deus” (Alma 17:2–3).
Essas expressões poderosas e ternas centralizadas no Salvador Jesus Cristo e em Seu evangelho, são muito parecidas com as 25 ocasiões em que nós havíamos nos reunido para ouvirmos grupos de missionários da Missão Arizona Phoenix voltando para casa. E tenho certeza de que nosso amigo já tinha ouvido expressões semelhantes.
Lembrei-me de tudo o que havia sido dito acima, inclusive da escritura, enquanto ouvia o relato de uma de nossas jovens vizinhas, em uma recente reunião sacramental, sobre sua missão de tempo integral. Sua mensagem estava repleta de histórias e testemunhos de como encontrar, servir, ensinar, convidar e converter, além de seu próprio crescimento pessoal no evangelho.
Relembrando a frase que a sister Taylor usou, aquele era um testemunho “vivo”, um testemunho transformador, edficante, e não algo para deixar morrer na vinha do Senhor.
Dizer que um missionário está “morrendo” abre espaço às armadilhas da gíria missionária, sejam termos para marcar o tempo de serviço (começo, meio e fim), ou os próprios missionários (líderes, treinadores, em treinamento, companheiros), ou ainda qualquer outra coisa intermediária.
Um exemplo disso acontece quando uma dupla de missionários é transferida de uma área designada, e uma nova dupla chega para substituí-los. Com uma miríade de razões pelas quais isso pode ser feito, passei por transferências como esta, tanto como missionário, quanto como presidente de missão. Termos e gírias comuns usadas para descrever tal transferência incluem [em português] “abrir a área”.
Um desafio ainda maior é quando membros, amigos e familiares de missionários começam a usar, consciente ou inconscientemente, tais palavras e expressões.
Ao desencorajarmos o uso de gírias, dissemos aos missionários que os termos sugeriam preocupações ou problemas com os missionários, os membros ou a área. “O que os membros pensam quando ouvem que sua área foi ‘aberta’?", foi nossa pergunta.
Também relatamos as instruções de Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, durante um seminário para novos líderes de missão, sobre o treinamento de novos missionários. Ele fez um apelo enfático e sincero, para que nunca mais ouvisse um novo missionário ser chamado de “verdinho.”
O manual missionário “Padrões Missionários para os Discípulos de Jesus Cristo” diz sucintamente: “Mantenha um linguajar digno e evite usar gírias” (3.5.1).
Hesito em dar qualquer outro exemplo de gíria missionária. Da mesma forma como elas podem parecer inteligentes, bem-humoradas ou inofensivas, às vezes são vistas como muito casuais, inapropriadas ou humilhantes. Também advertimos os missionários de que algumas palavras, frases e expressões usadas anteriormente na escola e em ambientes sociais, podem não ser apropriadas para um servo do Senhor.
Como líderes de missão, e posteriormente líderes de ramo no Centro de Treinamento Missionário de Provo, incentivamos os missionários a usarem palavras que os deixassem à vontade em suas conversas, como se estivessem na presença de um Apóstolo porque, acima de tudo, eles estavam se esforçando para terem a companhia do Espírito Santo.
Então, o testemunho de um missionário “morrendo”? Não, nunca testemunhei as palavras finais de um missionário moribundo.
Mas já ouvi centenas de testemunhos “vivos”, testemunhos que podem sustentar os santos dos últimos dias, jovens e idosos, ao voltarem de seu serviço missionário para casa. E testemunhos que podem reaproximá-los se forem desviados do caminho do convênio e se encontrarem procurando retornar, como na parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32).
E já ouvi milhares de missionários conversarem apropriadamente, com reverência a seu chamado e serviço, e respeito àqueles com quem falam e de quem falam.
— Scott Taylor é editor do Church News