O que pesquisas dizem sobre o perdão, saúde mental e bem-estar físico
Com a ênfase de Presidente Nelson no perdão, o Church News conversou com três pesquisadores que fizeram investigações profundas sobre o perdão e a saúde

Um número crescente de pesquisas diz que o perdão pode estar relacionado à saúde mental e ao bem-estar físico.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
O que pesquisas dizem sobre o perdão, saúde mental e bem-estar físico
Com a ênfase de Presidente Nelson no perdão, o Church News conversou com três pesquisadores que fizeram investigações profundas sobre o perdão e a saúde

Um número crescente de pesquisas diz que o perdão pode estar relacionado à saúde mental e ao bem-estar físico.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Nota do editor: Esta é a terceira parte de uma série de três sobre o que as pesquisas dizem sobre o perdão. Leia a parte um e a parte dois.
Em uma conferência sobre o perdão, na Universidade de Harvard em abril, uma equipe de pesquisadores internacionais compartilhou os resultados de um estudo em andamento, envolvendo 4.598 participantes de cinco países com um histórico de conflito: Colômbia, Hong Kong, Indonésia, África do Sul e Ucrânia.
A Templeton World Charity Foundation, que financiou a pesquisa, disse que o estudo representa “a maior descoberta [em inglês] da ciência do perdão até hoje.”
No estudo controlado randomizado, os indivíduos que completaram um livro de exercícios sobre intervenção do perdão [em inglês] autodirigido, observaram um aumento na capacidade e disposição para perdoarem, uma redução nos sintomas de depressão e ansiedade, e um aumento de prosperidade. Os aspectos da prosperidade incluem felicidade e satisfação com a vida, saúde mental e física, significado e propósito, e relações sociais.
Este estudo faz parte de um crescente corpo de pesquisas que mostra como o perdão está relacionado à saúde mental e ao bem-estar físico, um campo de pesquisa que teve alto crescimento nas últimas décadas.
Com a recente ênfase de Presidente Russell M. Nelson no perdão para os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o Church News conversou com três psicólogos que realizaram investigações profundas sobre o perdão e saúde.

Gráfico do Church News, atualizado para o português por Deborah P. Vasconcellos
Definindo o perdão
O livro de exercícios, usado neste recente estudo global, é baseado no modelo de perdão REACH criado por Everett Worthington, psicólogo clínico licenciado e professor emérito da Universidade de Virgínia Commonwealth. REACH significa recordar a mágoa, ter empatia para com o ofensor, oferecer o presente altruísta do perdão, se comprometer a perdoar e apegar-se ao perdão.
Worthington explicou por que os resultados deste estudo são significativos: “No total, os seis locais diferentes [em cinco países] tiveram mais participantes que completaram os livros de exercícios, do que todos os estudos de intervenção já realizados procurando promover o perdão juntos. Acreditamos que este estudo indica que pessoas de todo o mundo podem usar um protocolo de perdão gratuito e cientificamente avaliado, e experimentarem o perdão, a liberdade e a saúde.”
Worthington, um renomado líder no campo da pesquisa do perdão, acredita que existem quatro tipos de perdão: perdão divino, perdão de si mesmo, perdão de pessoa para pessoa e perdão social (esta série do Church News examina o perdão de pessoa para pessoa).

Everett Worthington é psicólogo clínico licenciado e professor emérito da Universidade de Virgínia Commonwealth. Ele tem estudado o perdão cientificamente desde 1990.
Relações Públicas da Universidade de Virgínia Commonwealth
Embora o perdão tenha sido definido pelos pesquisadores de várias maneiras, uma definição amplamente aceita é substituir a má vontade para com o ofensor, pela boa vontade. O perdão não implica esquecer, tolerar, desculpar ou negar comportamentos prejudiciais.
De acordo com Worthington, existem dois tipos de perdão de pessoa para pessoa: perdão decisório e perdão emocional.
O perdão decisório envolve tomar a decisão de perdoar uma ofensa pessoal, abandonar pensamentos de raiva e ressentimento, e tratar o ofensor com dignidade. Isto é o que os psicólogos chamam de declaração de intenção de comportamento, não necessariamente um comportamento, disse Worthington. “O fato é que posso sinceramente tomar a decisão de perdoar alguém e ainda assim sentir falta de perdão, emoções como ressentimento, amargura, hostilidade, ódio, raiva, medo.”
O perdão emocional envolve a substituição dessas emoções negativas por sentimentos positivos, tais como compaixão, simpatia e empatia. A pesquisa mostra que este tipo de perdão é onde estão a maior parte dos benefícios para a saúde. “O perdão emocional afeta diretamente nossa saúde mental e física”, disse ele.
Worthington também observou que perdão e reconciliação não são a mesma coisa. O perdão dá alguma motivação para a reconciliação, mas nem todos podem se reconciliar.
“Se alguém está me intimidando e me batendo e continuará me batendo amanhã, posso perdoá-lo porque isso acontece dentro de mim. Isso é uma decisão. Isso é uma mudança emocional. Mas posso não querer prosseguir com o desejo de reconciliação porque não é seguro, prudente ou possível. A reconciliação requer duas pessoas”, explicou ele.

De acordo com o psicólogo Everett Worthington, pesquisas revelam que é no perdão emocional, substituindo emoções negativas por sentimentos positivos como compaixão, simpatia e empatia, que reside a maior parte dos benefícios para a saúde.
Marco - stock.adobe.com
Como a raiva afeta o corpo
A raiva é um sentimento associado à falta de perdão ou a não perdoar. Worthington identificou alguns dos perigos da raiva crônica no corpo humano:
“A raiva tem muitos fatores psicológicos que a acompanham, como pressão arterial elevada, frequência cardíaca elevada e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca. … Uma das outras partes da raiva é o envolvimento de nossos hormônios. Adrenalina e cortisol são injetados em nossa corrente sanguínea.
“Não há nada de errado com a adrenalina e o cortisol: eles nos estimulam, nos preparam para lidar com o estresse, mas se estiverem cronicamente elevados, o cortisol em particular, é realmente perturbador para os sistemas do nosso corpo.”
Estes sistemas do corpo incluem o sistema nervoso simpático e parassimpático, sistema imunológico, sistema cardiovascular, sistema gastrointestinal e sistema reprodutivo, disse ele.
“Basicamente, todos os sistemas do corpo são afetados negativamente pelo cortisol cronicamente elevado”, continuou Worthington. “Então, a raiva, se não for tratada, pode acabar afetando praticamente todo o nosso corpo. E nem estamos falando da nossa saúde mental, dos nossos relacionamentos ou da nossa vida espiritual. Isso é apenas físico.”
Perdão e bem-estar físico
Charlotte Witvliet é professora de Psicologia na Hope College, uma faculdade particular cristã de Artes Liberais em Holland, Michigan, que estuda o perdão e seus efeitos colaterais emocionais e fisiológicos há 25 anos.
Witvliet destacou que as respostas de perdão que ela estudou em seu laboratório foram elaboradas para orientar as pessoas através de opções que se ajustam bem à responsabilidade.
“Estas são respostas que uma pessoa pode ter em uma posição de segurança, e nenhuma delas minimiza de forma alguma o mal que foi feito. … Precisamos garantir que as pessoas que suportaram o peso da injustiça contra elas sejam capazes de viverem livres de ameaças ou danos contínuos”, disse ela.

Charlotte Witvliet é professora de Psicologia na Hope College. Suas principais contribuições de pesquisa se concentram no perdão e em seus efeitos colaterais emocionais e fisiológicos.
Hope College
Um dos primeiros estudos de Witvliet analisou o que acontecia quando as pessoas alimentavam rancores e reviviam memórias dolorosas, em comparação com quando cultivavam a empatia e imaginavam conceder perdão aos ofensores da vida real.
Ao ativarem pensamentos de perdão, “elas tiveram respostas mais baixas de frequência cardíaca e pressão arterial. Elas apresentaram menos tensão na testa e sob os olhos. Depois desse estudo, simplesmente continuamos.”
Witvliet e outros investigadores desenvolveram uma “abordagem de reavaliação compassiva” que, em suas palavras, consiste em “concentrar-se no lado humano do infrator, ver os seus erros como prova de que eles precisam de uma mudança positiva e depois desejar essa boa mudança para eles.”
“É algo muito focado no ‘outro’”, explicou ela.
Em contraste com a ruminação, o ato de reviver a dor e o seu impacto, aqueles que se envolveram em uma reavaliação compassiva experimentaram indicadores reduzidos de estresse, incluindo uma frequência cardíaca mais baixa, disse ela. Outros efeitos colaterais da reavaliação compassiva, que induziram maior empatia e perdão, incluíram um aumento em outras emoções positivas e diminuição correspondente em emoções intensas e negativas.
“Temos algumas evidências de que os indicadores cardíacos do chamado sistema nervoso simpático, nossa resposta de sobrevivência de luta ou fuga, são acalmados em condições que provocam respostas mais indulgentes”, disse Witvliet.

Em contraste com a ruminação, ato de reviver a dor e o seu impacto, aqueles que se envolveram em uma reavaliação compassiva experimentaram indicadores reduzidos de estresse, disse Charlotte Witvliet, que estuda o perdão.
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As evidências também mostraram que a ruminação prejudica um indicador cardíaco da resposta calmante do sistema nervoso parassimpático, enquanto a reavaliação compassiva provocou uma resposta semelhante aos níveis basais de relaxamento, disse ela. Em outras palavras, o perdão através da reavaliação compassiva pode ser tão calmante como as tarefas de relaxamento.
Aqueles que perdoam mais também podem dormir melhor. Em um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology [em inglês] no ano passado, “descobrimos que, quando as pessoas se engajavam em uma reavaliação compassiva antes de dormirem, em vez de ruminarem, elas tinham menos atrasos no sono, melhor duração e menos distúrbios do sono devido a pensamentos intrusivos sobre a ofensa”, disse Witvliet.
Perdão e saúde mental
Worthington chama a ruminação de “a vilã universal da saúde mental” porque “está implicada na depressão, ansiedade, transtornos obsessivo-compulsivos, alguns transtornos de personalidade, transtornos de raiva e transtorno de estresse pós-traumático.”
“Não é bom para nós. Não façam isso”, disse ele sobre a ruminação. “Mas isso é fácil de dizer, não tão fácil de fazer. É por isso que acho que o perdão pode ajudar, porque tira muita pressão da ruminação.”
Loren Toussaint é professor de Psicologia na Luther College, uma faculdade particular luterana de Artes Liberais em Decorah, Iowa. O foco da maior parte de sua pesquisa tem sido documentar os benefícios do perdão.
“[As pessoas] certamente, sem dúvida, apresentam melhor saúde mental”, disse Toussaint. “Os níveis de depressão diminuem, os níveis de ansiedade diminuem, os sintomas de trauma diminuem.
“Não estou dizendo que você apagará o trauma por meio do perdão, mas os sintomas do trauma, o tipo de hipersensibilidade, a ativação excessiva de muitos desses tipos de pensamentos e pensamentos em imagem recorrentes, estas coisas começam a melhorar.. Mesmo sintomas do tipo fobia, sintomas de medo, esses sintomas diminuem.”

Loren Toussaint é professor de Psicologia na Luther College e documenta os benefícios do perdão.
Luther College
Embora as pessoas que perdoam mais pareçam ter uma diminuição na saúde mental negativa, elas também parecem ter um aumento na sua saúde mental positiva, disse Toussaint.
“Coisas como medidas gerais de felicidade, humor positivo, medidas de prosperidade que geralmente combinam coisas como saúde mental e física, juntamente com várias medidas de felicidade e bem-estar, quando você olha para estes tipos de medidas globais agregadas de bem-estar geral e qualidade de vida, todas essas coisas parecem melhorar com o perdão”, disse ele.
E a pesquisa vai além dos Estados Unidos, acrescentou. “Evidências crescentes mostram que isto é verdade na cultura caribenha, na cultura africana e na cultura asiática. Em todo o mundo, parece haver uma ligação muito consistente entre o perdão e a melhoria do funcionamento no nível de felicidade e qualidade da prosperidade na vida.”
Toussaint foi coautor de um estudo que examinou a exposição ao estresse ao longo da vida, e os níveis de perdão na saúde mental e física de jovens adultos. As associações entre estresse e saúde mental foram mais fracas entre aqueles que demonstraram maior perdão.
“O que descobrimos é que as pessoas que relataram um nível de perdão muito baixo, mostraram a ligação clássica entre estresse e depressão… [enquanto] as pessoas que perdoam mais não mostraram nenhuma correlação entre estresse e depressão”, disse Toussaint. “Isso é algo que acompanhamos de algumas maneiras diferentes, em alguns estudos diferentes, e continuamos descobrindo isso.”
Semelhante à forma como o apoio social pode proporcionar um amortecedor, ou isolamento, contra os estragos do estresse diário, a investigação descobriu que o perdão também pode, disse Toussaint.

Semelhante à forma como o apoio social pode proporcionar um amortecedor, ou isolamento, contra os estragos do estresse diário, a investigação descobriu que isto também é possível através do perdão, disse Loren Toussaint, que estuda os benefícios do perdão.
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“O perdão faz bem à saúde, sim. Mas também ajuda a nos protegr daquelas coisas que não são boas para nossa saúde e que provavelmente não podemos evitar. Portanto, ele tem um papel duplo nesse sentido. É um mecanismo de proteção para o enfrentamento.”
Por exemplo, quem perdoa pode ter uma memória melhor. “À medida que você envelhece, sua memória começa a desaparecer um pouco. Mas o que descobrimos é que, para as pessoas que perdoam mais, o declínio no déficit de memória relacionado à idade é muito menor do que para aqueles que são do tipo mais implacável”, disse Toussaint.
E aqueles que perdoam mais, podem viver mais. Um estudo realizado com adultos nos E.U.A. com 66 anos ou mais, descobriu que o perdão acrescenta um benefício positivo à longevidade de uma pessoa, depois de controlar variáveis religiosas, sociodemográficas e de comportamento de saúde. “Descobrimos que as pessoas têm algo em torno de 25 a 50% de uma maior probabilidade de ainda viverem três anos depois, se perdoarem mais, em comparação aos que não perdoam tanto”, disse Toussaint.
Mais sobre a série de pesquisas sobre perdão
Esta série do Church News explora o que as pesquisas dizem sobre o perdão, à luz da recente ênfase de Presidente Russell M. Nelson no perdão para os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A série inclui:
- Parte 1: O apelo e exemplo de perdão do Profeta
- Parte 2: Como o perdão pode afetar o casamento e as relações familiares
- Hoje — Parte 3: O que pesquisas dizem sobre perdão, saúde mental e bem-estar físico