Como o perdão pode afetar o casamento e as relações familiares
‘Se você quer paz em sua vida, se quer sentir mais alegria, se quer ter uma conexão mais profunda com os outros, aprenda a perdoar’, diz professor da BYU

Um pai e uma mãe com seus dois filhos pequenos na Nova Zelândia. O Church News entrevistou três professores da BYU que estudaram o perdão em relacionamentos próximos, como casamento e família.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Como o perdão pode afetar o casamento e as relações familiares
‘Se você quer paz em sua vida, se quer sentir mais alegria, se quer ter uma conexão mais profunda com os outros, aprenda a perdoar’, diz professor da BYU

Um pai e uma mãe com seus dois filhos pequenos na Nova Zelândia. O Church News entrevistou três professores da BYU que estudaram o perdão em relacionamentos próximos, como casamento e família.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Nota do editor: Esta é a segunda parte de uma série de três sobre o que as pesquisas dizem sobre o perdão. Leia a primeira parte aqui.
O paradoxo de uma relação próxima, como o casamento, é que dois indivíduos podem ter as suas necessidades afiliativas mais profundas satisfeitas, mas podem ser magoados, traídos, injustiçados ou decepcionados pela outra pessoa, disse o psicólogo Frank Fincham.
Fincham é um dos principais especialistas em perdão em relacionamentos que falou na Palestra Marjorie Pay Hinckley de 2013 [em inglês], na Universidade Brigham Young, com uma mensagem intitulada “Até que a falta de perdão nos separe: perdão no casamento” [em inglês] e se concentrou na necessidade e no processo de perdão no casamento.
“Compartilhamos nossas vulnerabilidades mais profundas com nossos parceiros próximos, e isso nos permite experimentar um aumento em nosso próprio bem-estar… mas também aumenta as chances de sermos feridos”, disse Fincham, diretor do Instituto da Família na Universidade Florida State.
“Não importa quão maravilhoso [ou maravilhosa] seja seu cônjuge, ele [ou ela] não é perfeito. … Você será magoado por seu cônjuge e isso não acontecerá apenas uma vez”, disse ele. “O perdão precisa ser algo que esteja disponível nesse relacionamento.”

O paradoxo de uma relação próxima, como a do casamento, é que dois indivíduos podem ter as suas necessidades afiliativas mais profundas satisfeitas, mas podem ser magoados, traídos, injustiçados ou decepcionados pela outra pessoa, disse o psicólogo Frank Fincham.
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Chelom Leavitt, professora associada da Faculdade de Vida Familiar da BYU, e que estuda variáveis que criam relacionamentos mais saudáveis, citou algumas das pesquisas de Fincham, em uma entrevista recente ao Church News. Ela fez referência à parte da palestra sobre abrir mão de um “direito percebido de vingança”, e acrescentou a perspectiva do evangelho de Jesus Cristo.
“Se quisermos manter um relacionamento de longo prazo, seremos magoados muitas vezes, intencionalmente ou não”, disse ela. “Deus sabe que o perdão é o bálsamo que ajudará a manter esses relacionamentos, e para nos ajudar nisso, está a Expiação de Jesus Cristo. Esse é o poder que nos ajuda a nos acalmar, a abrir mão desse direito de retaliação, a nos tornarmos quem queremos ser e a sermos mais intencionais nas escolhas que fazemos. …
“Se você quer paz em sua vida, se quer sentir mais alegria, se quer ter uma conexão mais profunda com os outros, aprenda a perdoar.”
Com a recente ênfase de Presidente Russell M. Nelson no perdão para os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o Church News conversou com três professores da BYU que estudaram o perdão em relacionamentos próximos, como casamento e família.
Como é o perdão em relacionamentos próximos como o casamento
Para Leavitt e sua pesquisa, o perdão é definido como “reduzir os sentimentos negativos que você tem, a fim de potencialmente recuperar sentimentos positivos em relação à pessoa com quem você está se relacionando.”
“O que sabemos é que o perdão está associado à satisfação e estabilidade no relacionamento e até à satisfação sexual”, disse ela. “Se estivermos feridos em um relacionamento, podemos imaginar que isso terá impacto em todo tipo de coisa na relação: nos sentiremos distantes, sem nenhuma conexão, nenhum desejo de estar com aquela pessoa. E por isso também que ele é tão importante para o bem-estar do relacionamento.”

Um casal conversa enquanto caminha.
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O perdão acontece em camadas, disse Leavitt, se referindo à definição de perdão de Fincham como “um processo, não um evento.”
Em relacionamentos românticos, como o casamento, onde a vulnerabilidade pode trazer feridas profundas, iniciar o processo de perdão não é necessariamente iniciar o processo de consertar o relacionamento, destacou Leavitt. “Pesquisas nos mostram que [o perdão] não significa necessariamente que você confia [na outra pessoa]. Você tem que reconstruir a confiança, isso é algo bem separado.
“Não estou sugerindo às pessoas que joguem a cautela ao vento e perdoem um agressor sem uma indicação clara de que mudaram seus hábitos... mas o que estou dizendo é que, em nosso dia a dia, os solavancos e dificuldades da vida, que o perdão é uma ferramenta essencial se realmente quisermos ter paz.”
Algumas das pesquisas de Leavitt se concentram na atenção plena, como estar presente no momento tem efeitos positivos nos relacionamentos românticos. “Parte do mecanismo através do qual esse tipo de atitude funciona é que somos mais indulgentes e menos críticos, e ficamos cheios de gratidão, por isso vemos o lado positivo”, disse ela.
“Quando perdoamos, não estamos ignorando a dor. Não estamos dizendo que não ocorreu um dano. Estamos reconhecendo isso. Estamos olhando diretamente nos olhos e dizendo: ‘Sim, isso foi horrível’... e se este é um relacionamento que pode ser consertado, ‘Tentarei ver meu parceiro sob uma luz diferente.’”

“O Filho Pródigo”, de Clark Kelley Price.
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Leavitt explicou que a disposição para perdoar prediz se um relacionamento será ou não reparado, citando uma pesquisa de Johan Karremans, um pesquisador do perdão na Holanda. E as pessoas podem aumentar ou desenvolver a sua disposição para perdoar, disse ela. Isso costuma ser chamado de “perdão de características” na pesquisa.
“Na verdade, o processo intrapessoal é fundamental para o processo interpessoal”, disse Leavitt. “Primeiro tenho que me regular, e é aí que começa o perdão. Ele me ajuda a mudar o meu ambiente interior, para que possa então mudar as minhas interações com os outros. …
“O perdão é uma prática consciente”, ela continuou. “É necessária essa capacidade de desacelerar meus pensamentos, ser claro sobre o que me feriu e, então, passar intencionalmente pelo processo de ‘como quero responder?’ e não, ‘como me sinto compelido a responder?’ Isso é apenas uma reação…
“Da perspectiva do evangelho, o Salvador preenche essa lacuna. É assim que me sinto compelida a responder, mas o Salvador me ajuda a responder como desejo e a ser muito mais intencional e determinada.”
Como a religião pode facilitar o perdão nas relações familiares
Loren Marks e David Dollahite são professores da Faculdade de Vida Familiar da BYU que conduzem pesquisas sobre os vínculos entre religião e vida familiar. Eles também atuam como codiretores do projeto American Families of Faith [Famílias Americanas de Fé – em inglês], onde entrevistaram quase 300 famílias nas últimas três décadas.

Um pai se senta com os filhos para lerem as escrituras juntos. Professores da BYU, descobriram que a religião pode ser um catalisador para ajudar as pessoas a perdoarem.
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Em um livro intitulado “Religion and Families” [Religião e Famílias – em inglês], que aborda a ligação acadêmica entre religião e vida familiar, Marks e Dollahite notaram estas descobertas em um capítulo sobre perdão:
- Alguns pesquisadores familiares sugerem que o perdão é o fator mais importante para o sucesso das famílias.
- As crianças tendem a seguir o padrão de perdão, ou falta de perdão, demonstrado e modelado pelos pais.
- O envolvimento religioso facilita o perdão.
Embora existam muitas pesquisas que mostram o valor da religião para os relacionamentos, Dollahite disse: “Nosso trabalho tem se aprofundado mais e observado os processos: os porquês e os comos. Como a religião funciona? Por que a religião parece promover o perdão? Como isso acontece?”
Marks e Dollahite foram coautores de um artigo de pesquisa publicado no início deste ano, que explorou as motivações e processos de perdão [em inglês] em uma amostra étnica, econômica e geograficamente diversificada, de 198 famílias cristãs, muçulmanas e judias, todas altamente religiosas nos Estados Unidos.
“Os participantes relataram que seus esforços para perdoar foram motivados pelo desejo de terem harmonia relacional entre si [nas relações de casal e entre pais e filhos], por suas crenças religiosas e espirituais e por suas experiências espirituais com o perdão divino”, afirma a pesquisa.
Descobriram também que as práticas religiosas funcionaram como um recurso para permitir o processo de perdão, e encorajaram os participantes a perdoarem consistentemente. Por exemplo, alguém pode sentir desejo de perdoar enquanto ouve um sermão, canta um hino ou faz uma oração, disse Dollahite.
Marks ofereceu a sua perspectiva sobre as descobertas: “Acredito que, pelo perdão ser tão difícil, a maioria de nós precisa de um catalisador. Sabemos que precisamos perdoar. Sabemos que precisamos pedir perdão. Mas precisamos de um catalisador, e a religião fornece uma série de catalisadores que fazem esse processo avançar.”

Uma mãe e um pai brincam com suas duas filhas fora de casa. Professores da BYU pesquisaram maneiras pelas quais a religião pode ajudar a facilitar o perdão nas famílias.
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Os dois professores da BYU também conduziram um estudo sobre reconciliação relacional [em inglês] envolvendo a mesma amostra de famílias cristãs, muçulmanas e judias. As crenças religiosas e espirituais supostamente influenciaram as motivações e os processos de reconciliação.
Como é o processo de reconciliação na vida familiar? De acordo com este estudo, “o processo de reconciliação envolvia orar a Deus por ajuda (espiritual), admitir erros e assumir responsabilidades (pessoal), perdoar e ser perdoado (relacional) e trabalhar para resolver problemas e fazer reparações (prático).”
Uma mulher cristã ortodoxa entrevistada explicou como a oração, a admissão de erros, o perdão e o ato de pensar antes de falar, tudo isso funcionava em conjunto para ajudar a reduzir os conflitos familiares e conjugais:
“Para ajudar a evitar ou reduzir conflitos, seja na família ou no casamento, é a oração incessante, um guia espiritual, o perdão frequente e a confissão. E ter essas coisas é o que nos mantém, as crianças e os pais, juntos”, disse ela. “Estou constantemente conversando com alguém sobre o que fiz de errado esta semana e o que as crianças fizeram de errado. Então [Deus] me ajuda a olhar para diferentes maneiras de voltar a abordar as coisas. Esse é meu guia espiritual. … E o perdão toda semana e a confissão, todas essas coisas; você junta tudo e acho que é isso que completa o conjunto para manter Deus no centro.”
“Para esta mãe”, disse Dollahite, “o perdão não é apenas ocasional se algo de ruim realmente acontece, mas um perdão frequente e um processo de conversa entre nós: ‘como podemos melhorar juntos? Como podemos perdoar um ao outro?’”
Dollahite observou que os santos dos últimos dias têm “maneiras regulares e ritualizadas de se reunirem e interagirem em torno de assuntos religiosos” em casa, como a noite familiar, conselhos de família, estudo das escrituras em família e oração familiar.
“Essa simples prática de ‘vamos nos reunir regularmente, vamos nos aproximar de Deus juntos, vamos conversar juntos sobre como estamos’... esse é um princípio incrivelmente poderoso e o processo que tem o potencial para um tremendo valor relacional e religioso para as famílias santos dos últimos dias”, disse ele.
Mais sobre a série sobre o perdão
Esta série do Church News explora o que as pesquisas dizem sobre o perdão, à luz da ênfase recente de Presidente Russell M. Nelson no perdão. A série inclui:
- Parte 1: O apelo e exemplo de perdão do Profeta
- Parte 2: Como o perdão pode afetar o casamento e as relações familiares
- Parte 3: O que pesquisas dizem sobre perdão, saúde mental e bem-estar físico.